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quarta-feira, 21 de maio de 2014

Como tudo começou


Achei que seria interessante contar como decidi começar esse blog.

Durante meu doutorado uma das disciplinas que eu cursei se chamava Divulgação Científica. O motivo pelo qual decidi cursar essa disciplina era nobre e ao mesmo tempo egoísta e mesquinho. Nobre porque realmente queria aprender mais sobre divulgação e popularização da ciência. Mas mesquinho porque era uma disciplina de 90 horas de carga horária, sem provas. Ou seja, quase 1/3 da carga horária do doutorado, praticamente sem esforço (eu achava)! Ora, é juntar a fome com a vontade comer!

Na primeira aula, o professor, Stevens Rehen (você já deve ter ouvido falar nele, senão, dá um Google, que o cara é realmente bom!), perguntou a cada aluno porque tínhamos decidido fazer aquela disciplina. Todos deram respostas românticas (inclusive eu), e meu colega, Sandro, virou pra trás num ponto e cochichou "ninguém vai mencionar as 90 horas não?”.

Mas enfim, a disciplina foi muito boa de fato. O professor era bem “relacionado”, digamos assim, e conseguiu com que vários grandes nomes dessem palestras pra nós, como Suzana Herculano-Houzel (A neurocientista de plantão - http://www.suzanaherculanohouzel.com/ e O cérebro nosso de cada dia - http://www.cerebronosso.bio.br/), Roberto Lent (O cara que escreveu o livro mais usado de neurociência no Brasil, fundador da Revista Ciência Hoje e fundador da editora Vieira e Lent, que publica diversos textos com temas relacionado à Ciência), Mauro Rebelo (Você que é biólogo - http://scienceblogs.com.br/vqeb/),  Franklin Rumjanek (colaborador e colunista da revista Ciência Hoje) e outros. Cada um deles nos enchia com um pouquinho mais de motivação e propósito, e a idéia de contribuir com divulgação ia a cada aula tomando mais forma na minha cabeça.

Mas o que realmente me fez decidir começar um blog foi um dos “trabalhos de casa” da disciplina. A cada semana tínhamos que produzir uma peça de divulgação científica (um post de blog, um vídeo, um podcast etc, era uma trabalheira danada, muito mais difícil que estudar pra prova!). E naquela semana eu estaria no Congresso Brasileiro de Virologia. Um dos palestrantes convidados era apenas o maior virologista envolvido em divulgação científica no mundo. Pensei: Seria uma boa fazer um podcast com esse cara! Mandei um email despretensioso pedindo uma breve entrevista e expliquei que estava cursando uma disciplina de divulgação científica. Não esperava nenhuma resposta (afinal, quão ocupado esse cara deve ser?). Mas nem 6 horas depois ele me respondeu! E aceitou!

O virologista era Vincent Racaniello, professor da Universidade de Colúmbia, nos Estados Unidos, pesquisador, ex-aluno do prêmio Nobel David Baltimore, e autor dos podcasts, This Week in Virology (TWIV - http://www.twiv.tv/), This Week in Microbiology (TWIM - http://www.microbeworld.org/podcasts/this-week-in-microbiology) e This Week in Parasitism (TWIP - http://www.microbeworld.org/podcasts/this-week-in-parasitism) e autor do Virology blog (http://www.virology.ws/). Coisa pouca, né?

A entrevista foi super tranquila, ele foi super legal (ele me emprestou o super sofisticado sistema de gravação portátil dele!), e depois da entrevista, fomos almoçar. Conversamos sobre diversos temas, inclusive como fazer aulas em formato online, eu sugeri algo como o khanacademy, que é de matemática, mas com virologia, e hoje Racaniello tem um curso inteiro de virologia online, no Coursera (é claro que não deve ter sido devido a minha sugestão, mas eu gosto de fantasiar que foi!). Durante o almoço ele disse: Divulgação Científica não é pra todo mundo, mas se você acha que pode ser pra você, você deveria investir nisso!

Pronto! Era o empurrão final pra iniciar o blog! Que agora é esse aqui.

A entrevista foi publicada no blog da Revista BioICB, o blog do Instituto de Ciências Biomédicas da UFRJ, onde todos os "trabalhos de casa" da disciplina eram publicados. Racaniello também fez um post no seu blog sobre a nossa entrevista (aqui, com direito a uma foto trevas de mim para seu divertimento).

O podcast pode ser ouvido no link abaixo, tanto o original em inglês quanto o traduzido pro português. Lembrando que esse material foi primeiramente publicado na Revista BioICB.

http://www.icb.ufrj.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=602&sid=427

E aí gostaram? Querem mais entrevistas em formato de podcast no blog?

PS: O próximo post também será uma entrevista. Com um prêmio Nobel! Não deixe de conferir!

quarta-feira, 14 de maio de 2014

Quem tem AIDS?

O Brasil é um país diferente no que se refere às siglas "virológicas", nós falamos português, mas usamos todas as siglas que se referem a vírus em inglês, ao contrário da maior parte do mundo. Na América Latina inteira o HIV é chamado de VIH, "virus de la inmunodeficiencia humana". Na França (onde, aliás, o vírus foi primeiramente identificado) é VIH, “le virus de l'immunodéficience humaine”. Em Portugal se usa, adivinhem só, VIH e não HIV. O Brasil deve ser o único país não falante de inglês onde a sigla oficial é HIV, mas ao invés da gente falar “Human Immunodeficiency Virus”, a gente diz “Vírus da Imunodeficiência Humana”, que daria VIH também! Enfim, é uma anomalia, não que isso me incomode (iria ser superestranho se de repente, todo mundo passasse a usar VIH em vez de HIV), mas é curioso, concorda?

O mesmo vale pra sigla AIDS. Ninguém (ou quase ninguém) no Brasil usa SIDA (embora a América Latina toda, França e Portugal usem). AIDS é “Adquired Imunodeficiency Sindrome”, mas a gente fala “Síndrome da Imunodeficiência Adquirida”, e na hora de abreviar, AIDS.

E quem tem AIDS?

Muita gente acha que quem é portador do HIV, tem AIDS, mas nem sempre é assim. Na verdade a AIDS é a fase mais avançada da infecção pelo HIV, que em média ocorre só após 10 anos da infecção inicial (ou seja, depois que a pessoa “pegou” HIV). Nessa fase, o vírus, depois de anos se replicando na surdina, enquanto o sistema imune ia progressivamente e lentamente sendo “consumido”, aparece com força total, e o sistema imune não consegue mais dar conta dele. É nessa fase que surge a imunodeficiência em si, e com ela as chamadas infecções oportunistas, causadas por microrganismos ou vírus que geralmente não são capazes de causar doença em alguém com um sistema imune saudável.

Quem chega nessa fase tem AIDS. Geralmente é nessa fase que se inicia tradicionalmente o tratamento antirretroviral, o chamado coquetel. E com o tratamento, o vírus é novamente controlado, o sistema imune se recupera, e o indivíduo sai da fase de AIDS. Ele deixa de ter AIDS, mas ainda é portador do HIV. Deu pra entender a diferença?

Só quem está ali naquele quadradinho vermelho tem AIDS.
CD4 é um tipo de célula do sistema imune, que é  alvo do HIV (essa curva supercoloridona). E a infecção em si pode ser medida de várias maneiras, as mais comuns são a viremia (presença de vírus no sangue) ou a detecção do genoma do vírus no sangue, que é o RNA. Clica que aumenta. 
Essa figura veio da minha monografia, por favor, se forem copiar me peçam antes que eu posso dar a referência direitinho!


Logo, nem todo portador de HIV tem (ou melhor, está em) AIDS.

O canal Porta dos Fundos lançou uma série (Viral) que trata justamente de um cara que descobre que tem HIV (e sabe que “pegou” HIV há três meses). Ele vai atrás das suas ex-peguetes pra avisá-las. Às vezes, Beto (o cara que descobre que tem HIV) diz “Eu tenho AIDS”, mas o certo seria “Eu tenho HIV”, já que ele é aparentemente saudável. No segundo episódio também se comenta que ele está em tratamento com o coquetel, o que é um protocolo bem novo de tratamento (como eu disse, o tradicional é o tratamento se iniciar só quando o indivíduo está em AIDS).



O canal é excelente, todo mundo conhece. O objetivo dele é fazer humor, não ser cientificamente correto. A série é ótima pra dar visibilidade e consciência ao tema HIV/AIDS (ou seria VIH/SIDA?), o que já é ótimo.

Mesmo assim, o pessoal do porta dos fundos se preocupou em explicar nesse vídeo aqui (minuto 13:09) a controvérsia entre HIV e AIDS, e eu achei super legal da parte deles (e eu gosto de imaginar que foi só por causa do email que eu mandei pra eles duas semanas antes - #egocêntrica).




Então agora você sabe: quase ninguém tem AIDS, e quem tem, pode voltar a não ter. E você também sabe que o H de HIV (ou VIH) significa “Humano”. Mas isso vai ser assunto de outro post!

terça-feira, 13 de maio de 2014

Eu voltei

Do mundo dos mortos, praticamente.

Um ano e meio desde o último post. Eu sei...
Mas eu voltei!

Yeah!
Muita coisa aconteceu, mas isso não é desculpa.
Então vamos voltar logo aos trabalhos e recuperar o tempo perdido!

PS: Esse GIF é o máximo!
PS2: Post novo daqui a 3 horas! Não deixe de conferir!

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